PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA (PDT)
Partido político nacional fundado em 16 de setembro de 1980 por Leonel Brizola após ter perdido para Ivete Vargas a luta pelo registro do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), a que ambos haviam pertencido até sua extinção em 1965, pelo Ato Institucional nº 2.
A luta pelo PTB
Em junho de 1979, ainda exilado, Brizola promoveu em Lisboa, juntamente com socialistas ligados a Mário Soares, o “Encontro dos trabalhistas do Brasil com trabalhistas no exílio”. Refugiados de 12 países da América e da Europa participaram, ao lado de 80 trabalhistas vindos do Brasil, da elaboração da Carta de Lisboa, documento que continha as bases programáticas do partido político que Brizola pretendia fazer reviver no Brasil, no contexto de redemocratização que se anunciava no fim da década de 1970. Tratava-se do PTB, que em sua nova fase deveria nascer comprometido com o “socialismo democrático”.
Retornando ao Brasil em setembro do mesmo ano, beneficiado pela anistia decretada no mês anterior, Brizola se engajaria na luta pela posse do PTB, pleiteada por seu grupo político ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Seus objetivos, no entanto, seriam atrapalhados por Ivete Vargas, também interessada em obter o controle da sigla. A batalha jurídica em que os dois grupos se empenharam só terminou em maio de 1980, quando o TSE decidiu que caberia ao grupo de Ivete a posse da legenda.
A perda da sigla do PTB fez com que Brizola e seus aliados se voltassem para a criação de outro partido trabalhista que continuasse a trajetória do velho PTB mas incorporasse novas demandas presentes no cenário da época. Assim foi criado o Partido Democrático Trabalhista, que, além de trabalhista, se declarava socialista, anunciando já em seu manifesto a “defesa da democracia, do nacionalismo e do socialismo”.
Em seu programa, o PDT elegia sete pontos prioritários de atuação: assistência à infância e aos jovens; defesa dos interesses dos trabalhadores, das mulheres, das populações negras, das populações indígenas e da natureza brasileira, e recuperação de concessões feitas a grupos estrangeiros, “lesivas ao patrimônio e à economia nacionais”. A comissão diretora nacional foi constituída por dez nomes: Leonel Brizola, Doutel de Andrade, Lidovino Antônio Fanton, Alceu Colares, José Frejat, Benedito Cerqueira, Susana Thompson Flores Pasqualini, José Guimarães Neiva Moreira, Antônio Guaçu Dinaer Piteri e Darci Ribeiro.
Desde a sua concepção, o PDT teve como grande marca a liderança de Leonel Brizola, que não somente apontava os rumos do partido, como determinava suas linhas de ação e posturas em relação aos grandes temas nacionais. O partido tinha como modelo o socialismo europeu, inclusive em seu símbolo, uma rosa, referência direta ao Partido Socialista Francês. Mas a filiação ao socialismo e à Internacional Socialista também provocava desconforto em alguns membros identificados com o trabalhismo getulista. Tal fato já indicava a diversidade das correntes formadoras do PDT, que abrigaria ainda, no decorrer do tempo, comunistas ligados a Luís Carlos Prestes e parlamentares provenientes de outras agremiações políticas.
O registro definitivo do PDT foi concedido pelo TSE em novembro de 1981.
As eleições de 1982
A primeira eleição realizada no país após o fim do bipartidarismo teve cinco partidos concorrendo a governos estaduais, prefeituras, Congresso Nacional, assembléias legislativas e câmaras municipais. A adoção do voto vinculado, que obrigava o eleitor a votar em candidatos de um mesmo partido, acabou por beneficiar o PDT, que na época ainda estava mal estruturado. O partido obteve um bom desempenho nos estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, onde Brizola já desenvolvera, no período anterior a 1964, intensas atividades políticas.
No Rio de Janeiro, o PDT apresentou o próprio Brizola como candidato ao governo do estado — tendo Darci Ribeiro como candidato a vice — e Roberto Saturnino Braga, egresso do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), como candidato ao Senado. Concentrando-se na região metropolitana, Brizola e os candidatos do PDT pautaram sua campanha por críticas aos governos estadual e federal, marcando sua postura oposicionista. Brizola derrotou Moreira Franco, candidato do Partido Democrático Social (PDS), não sem antes enfrentar uma tentativa de fraude eleitoral pela empresa Proconsult, encarregada de processar os votos. A fraude consistiria na transformação dos votos de Brizola em brancos e nulos. Descoberta a tempo pela Rádio Jornal do Brasil, a manobra foi evitada, e o PDT obteve sua primeira vitória eleitoral expressiva: o governo do estado do Rio de Janeiro, o único estado conquistado pelo partido em 1982.
Puxando a votação por força do voto vinculado, Brizola acabou por proporcionar ao PDT uma expressiva bancada de parlamentares no estado do Rio de Janeiro. Saturnino Braga elegeu-se senador — foi também o único eleito pelo partido em todo o Brasil — e, além disso, o PDT fez 16 deputados federais e 24 deputados estaduais. Em todo o país o partido elegeu 23 deputados federais (sendo sete no Rio Grande do Sul) e 36 estaduais, 22 prefeitos e 556 vereadores. Ressalte-se que, por força de sua insuficiente organização no plano nacional, o PDT deixou de concorrer às eleições em 12 estados da Federação.
Encerradas as eleições de 1982, o país viu-se diante de uma nova agenda política, que dessa vez trazia a demanda por eleições diretas para presidente, ampliando o processo de democratização em curso. Brizola e o PDT tiveram, ao lado de outros líderes políticos, expressiva participação na campanha pelas eleições diretas. Na votação, em abril de 1984, da emenda Dante de Oliveira, que restabelecia o pleito direto para presidente, o partido votou unido: seus 23 deputados foram favoráveis à aprovação da medida. A emenda foi porém derrotada, e as atenções se voltaram para o Colégio Eleitoral que escolheria o novo presidente da República em janeiro de 1985. O PDT não participou das negociações políticas que levaram à composição da Aliança Democrática, que sustentava as candidaturas de Tancredo Neves, do PMDB, a presidente, e de José Sarney, dissidente do PDS, a vice. Contudo, no momento da eleição, a bancada do partido manifestou-se integralmente a favor de Tancredo, contra Paulo Maluf, candidato do PDS. A doença e a morte de Tancredo, em 21 de abril, levariam José Sarney à presidência da República, inaugurando-se o período que seria chamado de Nova República.
Ainda em 1985, um outro tema entraria em pauta na agenda política brasileira: o país caminhava para a preparação de uma nova Constituição e começavam os debates sobre o formato da Constituinte a ser eleita. Levada a plenário em novembro, a matéria teve como desfecho a escolha de uma Constituinte congressual, da qual participariam os deputados e senadores eleitos em 1986, além dos senadores eleitos em 1982. O PDT, no entanto, não apoiou tal proposta, e seus parlamentares, seguindo a orientação do partido, votaram contra ela, defendendo a idéia de uma Constituinte independente, a ser dissolvida após os trabalhos.
Já nesse período o partido começou a dar mostras daquele que seria um de seus principais problemas: o choque de alguns de seus integrantes com o líder Leonel Brizola. Alguns parlamentares eleitos em 1982 deixaram o partido pouco tempo depois, como, por exemplo, Agnaldo Timóteo — o deputado federal fluminense mais votado em 1982, com quinhentos mil votos —, Sebastião Néri e José Colagrossi. No total, dos 16 deputados federais fluminenses eleitos, seis deixaram o partido durante o mandato.
Nova República e Constituinte
As primeiras eleições da Nova República, em 1985, escolheram os prefeitos das capitais brasileiras, bem como os de cidades situadas em áreas de segurança nacional e de estâncias hidrominerais. Nesse pleito, o PDT repetiu o desempenho de 1982, ou seja, saiu-se bem no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, conquistando, com Saturnino Braga, no Rio, e Alceu Colares, em Porto Alegre, duas prefeituras de capitais. Além disso, elegeu no estado do Rio os prefeitos de Duque de Caxias (Juberlã de Oliveira) e de Volta Redonda (Marino Clinger).
O ano de 1986 trouxe intensas mudanças econômicas ao país, por conta da edição, em 28 de fevereiro, do Plano Cruzado que, buscando a estabilização da economia e o fim da inflação, congelou preços e salários e suscitou uma onda de euforia e civismo com grandes repercussões no cenário político brasileiro. Os dias e meses que se seguiram à edição do plano trouxeram grande prestígio ao presidente José Sarney, a seus ministros da área econômica e ao PMDB em geral. Por outro lado, levaram Brizola ao isolamento político, uma vez que o governador do Rio de Janeiro fazia contundentes críticas ao plano. Na noite de 6 de março de 1986, por exemplo, Brizola ocupou uma cadeia de rádio e televisão destinada ao PDT para, por 35 minutos, criticar o Plano Cruzado e acusá-lo de levar o país ao “caos econômico e à miséria social”. O líder pedetista marcava, com essa atitude, uma posição que a curto prazo o isolou, assim como ao próprio PDT, que marchava agora na contramão da opinião pública.
Nas eleições de 1986, que ficaram conhecidas como “as eleições do Cruzado”, não houve maiores progressos no crescimento eleitoral do PDT em relação a 1982. O desempenho do partido ficou comprometido pela proibição imposta pela legislação eleitoral, e confirmada pelo TSE, da aparição de não-candidatos na propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Impossibilitado de fazer uso da imagem e da retórica de seu líder, o PDT enfrentaria grandes dificuldades no pleito.
No Rio de Janeiro, o partido lançou Darci Ribeiro como candidato a governador e Marcelo Alencar e José Frejat como candidatos ao Senado. O grande adversário do PDT seria Moreira Franco, agora no PMDB e apoiado por uma constelação de partidos que iam do Partido da Frente Liberal (PFL) ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), unidos na chamada Aliança Popular e Democrática. Moreira elegeu-se governador, e as cadeiras no Senado foram ocupadas por Nélson Carneiro, do PMDB, e Afonso Arinos, do PFL.
Em todo o país o PDT elegeu 24 deputados federais constituintes — sendo 13 no Rio de Janeiro e cinco no Rio Grande do Sul —, um senador — Maurício Correia, do Distrito Federal — e 62 deputados estaduais. Nenhum governador foi eleito pelo partido, uma vez que o PMDB conquistou o governo de 22 estados, e o PFL de um (Sergipe). A bancada pedetista iria perder alguns integrantes durante a Constituinte, mas também receberia adesões de deputados de outros partidos. Assim, em 1989 o partido contaria com 31 deputados.
A atuação do PDT na Constituinte ficou marcada pela defesa dos temas nacionalistas. Entre outros pontos, o partido apoiou o presidencialismo, votou contra os cinco anos de mandato para o presidente Sarney, a favor da jornada de trabalho de 40 horas semanais e do monopólio estatal do petróleo.
Crise no Rio e eleições de 1988
Em 1987, o PDT perdeu um de seus grandes expoentes: o então prefeito Saturnino Braga que, em meio a conflitos dentro do partido iniciados antes mesmo de sua posse, abandonou a legenda. A crise do então prefeito com o PDT começou com a escolha de seu secretariado, onde não foram reservadas vagas para os vereadores do partido. Além disso, a ênfase de Saturnino em uma administração “socialista” desagradou a alguns integrantes da corrente trabalhista do PDT. A postura cada vez mais independente de Saturnino em relação ao partido e a Brizola aumentou quando, ainda em 1987, o prefeito demitiu grande número de funcionários da Riotur e da Comlurb, além de fechar a “fábrica de escolas”, mexendo em uma área sensível aos líderes do PDT. A situação de Saturnino ficou insustentável ante a troca de insultos com Leonel Brizola, e isso o levou, em julho, a abandonar o partido, acusando-o de ser “cada vez mais um veículo para a candidatura de Brizola à presidência da República”. Juntamente com o prefeito, deixaram o PDT, entre outros, Jamil Haddad, José Frejat e o vice-prefeito Jó Resende. O próprio Saturnino e alguns de seus seguidores ingressaram no Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Se a gestão de Saturnino já enfrentava graves dificuldades de relacionamento com a Câmara Municipal, com sua saída do PDT as chances de enfrentar a crise econômica da prefeitura diminuíram sensivelmente. O prefeito não encontrava nenhum apoio dos vereadores, sobretudo pedetistas. Autorizações para empréstimos foram sucessivamente negadas pela Câmara. A crise financeira do município atingiu seu ápice em setembro de 1988, quando o prefeito anunciou a falência da Prefeitura.
As eleições de 1988 aconteceram em um clima de crise econômica, tanto no nível municipal quanto federal. Aumentava o descontentamento com o governo Sarney, que fracassara em dois planos de estabilização econômica e governava com altas taxas de inflação. Um conflito entre soldados do Exército e operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, que deixou três mortos, acirrou ainda mais a tendência oposicionista do eleitorado. No Rio, esse sentimento oposicionista se voltou contra o prefeito Saturnino Braga, acusado de incompetência administrativa e culpado pelo descalabro financeiro do município.
Os partidos de oposição, como o PDT e o Partido dos Trabalhadores (PT), foram beneficiados por essa conjuntura política e saíram-se bem nas eleições. No Rio, o candidato pedetista Marcelo Alencar ganhou com facilidade a prefeitura, deixando em segundo lugar Jorge Bittar, do PT. Além dessa vitória, o PDT alcançou expressivos resultados em cidades importantes do estado do Rio de Janeiro, conquistando as prefeituras de Niterói, São Gonçalo, Campos, Resende e Nova Iguaçu. No plano nacional, o PDT conquistou outras quatro prefeituras de capitais, entre elas Curitiba, com Jaime Lerner, João Pessoa, com Wilson Braga, e Natal, com Vilma Maia. Mais de duzentos prefeitos foram eleitos pelo partido em todo o Brasil, além de 2.300 vereadores.
A campanha presidencial de 1989
O PDT e seu líder Leonel Brizola aguardavam, desde a fundação do partido, o momento de disputar a presidência da República. Brizola aparecia no início de 1989 como um dos maiores líderes de oposição à Nova República, e era hora, portanto, de preparar a campanha que poderia conduzi-lo ao Planalto. A escolha do candidato a vice-presidente na chapa pedetista, após intensas discussões, recaiu em Fernando Lira, ex-ministro da Justiça do governo Sarney, que aderira ao PDT.
A campanha de Brizola não teve, entretanto, um desfecho favorável. Embora liderasse as pesquisas nos primeiros meses do ano, Brizola foi ultrapassado por Fernando Collor de Melo em abril, passando a disputar com Luís Inácio Lula da Silva, do PT, uma vaga no segundo turno.
O maior problema enfrentado pelo PDT foi a limitação de suas bases eleitorais. Brizola possuía grande apoio popular no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, estados onde fora governador. Porém, o PDT jamais conseguira conquistar o eleitorado paulista, a despeito dos esforços para atrair políticos de expressão local, como Ademar de Barros Filho. Mesmo minimamente estruturado, com diretórios municipais na quase totalidade dos municípios paulistas, e mais de 65 mil filiados no estado, o partido não decolara sequer na região do ABCD.
Esse cenário foi decisivo nas eleições de 1989, quando Brizola conquistou apenas 1,5% do eleitorado paulista. O candidato do PDT venceu em três estados da Federação: Rio de Janeiro (52% dos votos válidos), Rio Grande do Sul (62,66%) e Santa Catarina (26%). Em todo o país Brizola atingiu 15,45% dos votos, insuficientes para chegar ao segundo turno, uma vez que Lula obteve 16,48%, credenciando-se para disputar com Collor a presidência da República. O PDT e seu líder pagavam assim um alto preço pelo insuficiente desempenho eleitoral em estados importantes da Federação como Minas Gerais e São Paulo.
Mesmo fora da disputa, Brizola e o PDT teriam uma importante participação no segundo turno da eleição presidencial, já que seu apoio a Lula rendeu ao candidato petista a maioria absoluta dos votos nos estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Esses votos, contudo, não impediram a vitória de Fernando Collor.
Oposição a Collor
O ano de 1990 começou com o PDT reassumindo sua condição de partido oposicionista, contrapondo-se agora às propostas do governo Collor. O partido logo se opôs ao plano econômico do novo governo que, entre outras medidas, reteve os depósitos em cadernetas de poupança. Como já acontecera no Plano Cruzado, Brizola se colocou novamente contra um plano de estabilização, mas dessa vez encontrou uma opinião discordante de peso dentro do próprio PDT. O então deputado federal pedetista César Maia elogiou publicamente as novas medidas e pregou a aprovação total do plano pelo Congresso Nacional. As declarações de Maia provocaram um clima de revolta contra o deputado dentro do partido, em grande parte ainda ressentido em função de um encontro de Maia com Collor ocorrido em plena campanha presidencial de 1989.
Novamente ocupando uma cadeia de rádio e televisão destinada ao PDT, Brizola teceu em abril pesadas críticas ao Plano Collor, acusando-o de ser “ainda mais lesivo ao povo brasileiro do que o Cruzado”. O PDT tinha como ponto central de suas críticas a perda salarial — sobretudo do salário mínimo — ocasionada pelas medidas econômicas, que sacrificariam grande parte da sociedade, e o bloqueio imposto aos depósitos em caderneta de poupança. Brizola e o PDT acusavam também o novo governo de não resolver os problemas das “perdas internacionais”, ocasionadas sobretudo pela dívida externa.
Ao longo do ano de 1990, Brizola e o PDT mantiveram-se firmes na oposição ao governo Collor, protestando contra a reforma administrativa, contra membros da equipe econômica e contra a política de privatizações proposta pelo governo a partir de maio, que incluía a venda da CSN.
Foi nesse contexto que se desenvolveu a campanha para as eleições de 1990, destinadas a escolher governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Brizola foi novamente indicado pelo PDT candidato ao governo do estado do Rio de Janeiro. O partido esperava por uma aliança ampla, que englobasse também o PT, numa espécie de retribuição ao apoio emprestado por Brizola a Lula no segundo turno da eleição presidencial. As pretensões pedetistas foram, contudo, frustradas em uma reunião do PT fluminense, que decidiu, “atendendo às bases”, lançar candidatura própria ao governo — a do engenheiro Jorge Bittar. De toda forma o PDT recebeu o apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do Partido Verde (PV) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e resolveu pautar sua campanha em críticas aos governos Collor e Moreira Franco. Brizola venceu com grande facilidade o pleito, atingindo 60,88% dos votos válidos em todo o estado e decidindo, assim, a eleição no primeiro turno.
Em todo o Brasil ocorreria nesse ano o melhor desempenho eleitoral da história do PDT. O partido elegeu, além de Brizola, mais dois governadores: Alceu Colares, no Rio Grande do Sul, e Albuíno Azeredo, no Espírito Santo. A bancada de deputados federais somou 46 parlamentares, sendo 19 eleitos pelo Rio de Janeiro e sete pelo Rio Grande do Sul. Além disso, o número de deputados estaduais em todo o Brasil foi de 91.
Ao final das eleições, o PDT já aparecia como uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, atrás apenas do PMDB e do PFL. Uma nova postura, entretanto, começou a ser gestada dentro do partido em relação ao governo federal. A legenda possuía agora três governadores e parecia querer adotar uma política de menor confronto e maior entendimento com Collor. Em dezembro, Brizola, Albuíno e Colares se reuniram em Vitória e lançaram a chamada Carta de Vitória, na qual pregavam uma “oposição responsável ao governo Collor”, que incluía a condenação da política econômica do governo, mas abandonava a idéia de uma “oposição sistemática”.
Em 1991, mais um ilustre pedetista se desligaria do partido. Desde o início do ano, César Maia passou a sofrer críticas do PDT por apoiar as novas medidas econômicas do governo, conhecidas como Plano Collor II. Alguns pedetistas já pregavam o desligamento “espontâneo” de Maia do PDT. Ao mesmo tempo, o partido desautorizou o deputado a falar em nome da legenda e o substituiu como seu negociador no Congresso. Em seu lugar entrou o deputado gaúcho Carrion Júnior.
Aproximação de Collor
A política de “oposição responsável” implicou, na verdade, uma aproximação de Brizola em relação a Collor. Os entendimentos que visavam conseguir recursos para o Rio de Janeiro, possibilitando obras como a da Linha Vermelha, acabaram por resultar em encontros constantes entre o governador e o presidente. Este, por sua vez, acenava para Brizola com investimentos do governo federal em escolas de tempo integral, semelhantes aos centros integrados de Educação Popular (CIEPs), adotados no Rio de Janeiro.
Grande parte da bancada do PDT dessa vez se posicionou contra o maior líder do partido. Em junho de 1991, uma reunião do diretório nacional do PDT deixou expressa a discordância da bancada em relação ao apoio de Brizola a Collor. Mesmo contrariando os membros do partido, o apoio do governador chegou até 1992. Segundo os parlamentares pedetistas, tal fato prejudicaria a legenda em um ano eleitoral. A situação se agravou com as acusações feitas em maio por Pedro Collor de que o presidente, seu irmão, faria parte de um grande esquema de corrupção. A crise política que então se iniciou teria como desfecho o impeachment de Collor. Antes que isso ocorresse, entretanto, Brizola sofreria críticas ainda mais duras do partido, já que, mesmo diante das denúncias publicadas pela imprensa, recusava-se a criticar o presidente e a apoiar sua deposição. Em contrapartida, vários parlamentares pedetistas, como Cidinha Campos, manifestavam sua posição favorável ao impeachment. Mesmo sem o apoio firme de Brizola, em 29 de setembro a bancada do PDT marchou praticamente unida para votar a favor da abertura do processo de impeachment e do afastamento do presidente. Da bancada fluminense, apenas Sérgio Cury se ausentou da votação.
As eleições de 1992 e o plebiscito de 1993
As eleições de 1992 não foram favoráveis ao PDT no Rio de Janeiro. O então prefeito Marcelo Alencar tentou lançar a candidatura de Luís Paulo Correia da Rocha à sua sucessão, mas Brizola, intervindo nos diretórios do partido, acabou por controlar o processo de escolha do candidato do PDT, e a indicada foi a deputada federal Cidinha Campos. A princípio liderando as pesquisas, Cidinha foi ultrapassada por Benedita da Silva, do PT, e, nos últimos dias da campanha, por César Maia, candidato do PMDB. Dessa forma, a candidata pedetista sequer chegou ao segundo turno. O partido conquistou quatro prefeituras de capitais, entre elas Curitiba e João Pessoa, e 410 prefeituras em todo o país.
O saldo dessa eleição foi o início de um conflito entre Marcelo Alencar e Brizola que causou mais uma importante dissensão no partido. Em março de 1993 Marcelo Alencar abandonou o PDT, levando consigo vários deputados e vereadores que, como ele, ingressaram no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Também em 1993, reafirmando suas convicções presidencialistas expressas por ocasião da Constituinte instalada em 1987, o PDT entrou firmemente na campanha do plebiscito sobre a forma de governo a ser adotada no país. Suas lideranças e seus militantes foram mobilizados para defender nas ruas, no rádio e na televisão o presidencialismo, posição que saiu vitoriosa nas urnas.
Na mesma época, o PDT se empenhou no combate à revisão constitucional, seja por meios institucionais, recorrendo ao Supremo Tribunal Federal, seja por métodos alternativos, como a ação de parlamentares em plenário visando tumultuar as sessões da revisão e impedir seu andamento. A revisão constitucional fracassou, e os parlamentares pedetistas envolvidos nessas tentativas de obstrução, como por exemplo Luís Alfredo Salomão, do Rio de Janeiro, sofreram apenas punições leves. O partido também votou unido contra a criação do Fundo Social de Emergência, que, não obstante, acabou aprovado pelo Congresso Nacional.
As eleições de 1994 e 1996
As eleições presidenciais de 1994 aconteceram em um contexto bem diferente das de 1989. Dentro do PDT a candidatura de Leonel Brizola à presidência da República já não despertava unanimidade. O nome de Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, aparecia esporadicamente e chegou a ser proposto pelo PFL no início do ano visando a uma eventual aliança com o PDT. Brizola, entretanto, mantinha o controle sobre o partido e tinha apoio suficiente para mais uma vez se candidatar. Seu nome não chegou em momento algum a liderar as pesquisas, comandadas até julho por Lula, do PT, e depois por Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.
O candidato do PSDB, respaldado pelo Plano Real, venceu as eleições no primeiro turno, e Brizola sequer conseguiu vitórias nos seus antigos redutos, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro, chegou em quarto lugar, com 10,68% dos votos. Em todo o Brasil, ficou em quinto lugar, com 3,18% dos votos válidos, atrás dos candidatos Fernando Henrique Cardoso, Lula, Enéias Carneiro e Orestes Quércia.
O PDT elegeu na ocasião, em todo o país, quatro senadores, 34 deputados federais e 88 deputados estaduais. Dois governadores foram eleitos sob sua legenda: Jaime Lerner, do Paraná, e Dante de Oliveira, do Mato Grosso. No Rio, apesar do bom desempenho eleitoral do candidato Anthony Garotinho, sobretudo no interior do estado, o PDT não conseguiu evitar a vitória de Marcelo Alencar, ex-pedetista, agora no PSDB, que venceu o pleito no segundo turno.
Terminadas as eleições, mais uma vez o PDT ocuparia lugar na oposição, manifestando-se contra o plano de governo de Fernando Henrique Cardoso, sobretudo no tocante às reformas constitucionais previstas. Nas votações das emendas constitucionais o PDT se aliou ao PT na oposição, embora sem sucesso em seus objetivos. Vários deputados pedetistas acabaram votando com o governo e foram expulsos do partido, o que diminuiu bastante a sua bancada. Pelo menos sete parlamentares deixaram o PDT entre 1995 e 1996.
As eleições de 1996 foram marcadas por um retorno aos temas municipais, em detrimento das questões nacionais. Nesse contexto, o PDT lançou como candidato à prefeitura do Rio de Janeiro o deputado Miro Teixeira, que pautou sua campanha pelas críticas ao governo federal, extensivas aos candidatos seus concorrentes do PSDB e do PFL. A estratégia do PDT fracassou, e Miro Teixeira chegou em quarto lugar no primeiro turno, atrás de Luís Paulo Conde, do PFL, Sérgio Cabral, do PSDB, e Chico Alencar, do PT. Apenas quatro vereadores foram eleitos pelo partido na cidade. O PDT conquistou, contudo, 435 prefeituras em todo o Brasil, sendo algumas delas em capitais, como Curitiba e Porto Velho.
O início do ano de 1997 trouxe uma nova crise ao PDT, ocasionada pela decisão de alguns deputados pedetistas de votar favoravelmente à emenda constitucional que autorizava a reeleição do presidente da República e dos governadores e prefeitos. O foco da crise seria o governador do Mato Grosso, Dante de Oliveira, que fez intensa campanha pela reeleição, inclusive desembarcando em Brasília para pressionar deputados. A situação culminou com a expulsão do partido de Dante de Oliveira, que se filiou ao PSDB.
Nas eleições presidenciais de 1998, não havendo boas projeções para seus possíveis candidatos à presidência, o PDT decidiu-se pela coligação com o PT, apresentando Brizola como candidato a vice na chapa que teve Lula como candidato a presidente. Fernando Henrique Cardoso foi reeleito logo no primeiro turno, tendo a chapa PT-PDT ficado em segundo lugar, com 31,71% dos votos válidos.
A coligação PDT-PT se repetiu na eleição para governador no estado do Rio de Janeiro, com Anthony Garotinho liderando a chapa e Benedita da Silva como vice-governadora. A aliança entre os dois partidos esteve perto de ser desfeita quando da aprovação pelo diretório regional da candidatura de Vladimir Palmeira, de corrente mais radical do PT, ao governo do Rio. Brizola condicionou a permanência do partido na aliança nacional à manutenção da coligação no Rio, que se confirmou após intervenção do diretório nacional do PT. Apesar das resistências, a chapa Garotinho-Benedita saiu vitoriosa, tendo conseguido se eleger no segundo turno do pleito. Esse foi o único governo estadual que o PDT conseguiu conquistar nas eleições de 1998. No Rio Grande do Sul a coligação nacional também foi debatida, mas houve uma grande resistência do PDT gaúcho, que optou pelo lançamento de candidatura própria. No segundo turno o partido apoiou o candidato do PT Olívio Dutra. O partido teve esperanças de vitória em São Paulo, onde lançou como candidato Francisco Rossi, ex-prefeito de Osasco. Tendo-se mantido em segundo lugar durante quase toda a campanha, Rossi começou a perder pontos quando os demais candidatos começaram a atacá-lo. Terminou em quarto lugar e se desligou do PDT para apoiar Paulo Maluf, do Partido Progressista Brasileiro (PPB), no segundo turno. Nesse momento, oficialmente, seguindo a orientação de Brizola, o PDT pregou o voto em branco em São Paulo.
Ao todo o PDT elegeu 24 deputados federais em 1998, dez a menos do que em 1994, e ficou com apenas dois de seus quatro senadores.
Ricardo Guanabara colaboração especial
O PDT SEM BRIZOLA
Nas eleições municipais de 2000 os pedetistas elegeram 288 prefeitos, sendo dois de capitais: Jackson Lago, em São Luís, e Carlos Camurça, em Porto Velho.
Para as eleições gerais de 2002 o PDT mudou de estratégia, em relação ao que sucedera em 1998: ao invés de apoiar a candidatura de Lula, pelo PT, os pedetistas optaram por apoiar o candidato Ciro Gomes, então no Partido Popular Socialista (PPS). O ex-governador do Ceará, apoiado também pelo PTB, terminou o 1º turno em quarto lugar, com quase 12% dos votos válidos. Com a vitória de Lula, no 2º turno, contudo, o PDT teria a oportunidade, pela primeira vez, de participar oficialmente de um governo central no Brasil.
Nas eleições estaduais daquele ano, o PDT concorreu diretamente em nove estados, elegendo apenas um governador: Valdez Góis (AP). As bancadas pedetistas na Câmara passaram a contar, após as eleições de 2002, com dezenove representantes, ou 4,37% das cadeiras. Já no Senado o PDT passou a contar com mais quatro senadores.
O ano de 2004 trouxe grande tristeza ao PDT com o falecimento, em junho, de seu grande líder e fundador, Leonel Brizola, aos 82 anos, por problemas cardíacos. Sem seu principal nome, o partido disputou as eleições municipais de outubro, elegendo 307 prefeitos, obtendo, portanto, desempenho ligeiramente superior às eleições municipais anteriores. Três capitais foram conquistadas pelos pedetistas em 2004: Maceió, com José Cícero Soares de Almeida, Salvador, com João Henrique Carneiro, e São Luís, agora com Carlos Tadeu.
Nas eleições gerais de 2006, o PDT novamente mudou de estratégia com relação ao cargo mais importante do nosso sistema político, e apresentou a candidatura de Cristovam Buarque à presidência da República. Ex-ministro da Educação do primeiro governo Lula, e dissidente do PT, Cristovam terminou o 1º turno em quarto lugar, tendo obtido pouco mais de 5 milhões de votos válidos (5,2%). Lula se reelegeria no 2º turno, superando o candidato tucano da vez, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com o apoio, inclusive, do próprio PDT. O novo governo petista, iniciado em janeiro de 2007, contaria, mais uma vez, com a participação dos pedetistas.
Nas disputas estaduais de 2006, o PDT reelegeu Valdez de Góis no Amapá, e Jackson Lago no Maranhão. Quanto a suas bancadas no Congresso Nacional, elas não sofreram, na Câmara, qualquer alteração em relação ao desempenho eleitoral anterior, elegendo o partido 19 deputados. Já no Senado, o PDT ganhou um novo representante.
No pleito municipal de 2008, foram eleitos 350 prefeitos pedetistas, resultado superior ao de 2004. O desempenho da legenda em capitais, porém, não foi tão satisfatório e, dessa vez, o PDT saiu-se vitorioso somente em Macapá, com Roberto Góis.
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