DESENVOLVIMENTISMO

DESENVOLVIMENTISMO

 

Nome dado à estratégia política de desenvolvimento adotada durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que visava acelerar o processo de industrialização e superar a condição de subdesenvolvimento do país. O desenvolvimentismo como modelo econômico postulava que o crescimento dependia diretamente da quantidade dos investimentos e da produtividade marginal do capital; estes dois elementos estavam ligados ao investimento estrangeiro, que os fazia variar em função de sua própria importância. O desenvolvimentismo como ideologia de um desenvolvimento autônomo no âmbito do sistema capitalista proclamava por sua vez a riqueza e a grandeza nacional, a igualdade social, a ordem e a segurança.

A política adotada pelo governo Kubitschek implicou uma profunda transformação do sistema econômico do país e também a consolidação da cooperação internacional no plano econômico, político e cultural.

O Programa de Metas consubstanciou a orientação política a ser dada ao desenvolvimento brasileiro, baseada na maior intervenção do Estado na economia, no aumento da participação do capital privado nacional no processo de industrialização e na incorporação do capital estrangeiro. A política desenvolvimentista concebia a participação do capital estrangeiro como condição essencial para que o país superasse o subdesenvolvimento. Somente através da obtenção de recursos externos, seja sob a forma de investimentos diretos, financiamentos ou empréstimos, seja através da técnica, seria possível acelerar o crescimento econômico.

Do ponto de vista de Kubitschek, dos intelectuais, dos políticos e técnicos da administração identificados com o desenvolvimentismo, era fundamental a aceleração do crescimento econômico para que o Brasil atingisse a prosperidade e a paz e, como conseqüência, a soberania. Por sua vez, o conceito de soberania era entendido como equivalente ao conceito de autodeterminação. Os desenvolvimentistas afirmavam que somente os países ricos poderiam exercer plenamente a sua soberania e determinar os rumos de seu futuro.

A concepção de prosperidade no discurso dos desenvolvimentistas vinha acompanhada da idéia de ordem, que significava a manutenção do regime democrático. No entender de Kubitschek, o subdesenvolvimento constituía uma porta aberta à penetração de ideologias contrárias à democracia e por isso a luta contra o comunismo deveria ser travada eliminando-se a pobreza. Vendo o Brasil como um país de tradição democrática e valores cristãos, integrante da comunidade dos povos ocidentais, os desenvolvimentistas identificavam a segurança nacional com a segurança do Ocidente. O Estado deveria se voltar não somente para a defesa da integridade do seu território, mas, sobretudo, contra a ação estratégica comunista, que era vista como tendente a solapar e destruir a soberania nacional. A segurança era definida a partir da visão do caráter global da guerra, o que conduziria todos os Estados a se aglutinarem em blocos e a unirem seus potenciais militares e econômicos na luta contra o inimigo comum, o comunismo.

O nacionalismo para os desenvolvimentistas significava desenvolvimento econômico, ao contrário do sentido dado pela corrente nacionalista, que considerava o nacionalismo como a luta dos países pobres contra a exploração dos países ricos e via no subdesenvolvimento a conseqüência da dominação externa. Em seus discursos, Kubitschek dizia que o nacionalismo que convinha ao Brasil era aquele que colocava o país em condições de falar de igual para igual com os outros países, sem nenhum receio e sem nenhum sentimento de inferioridade. Para que isto se concretizasse, o único caminho era o desenvolvimento, que só seria alcançado com a colaboração do capital estrangeiro. Desse modo, se opor a essa colaboração era se opor à emancipação nacional. A concepção de nacionalismo estava ligada à noção de defesa da nação contra a subversão.

O desenvolvimentismo trazia também uma concepção de grandeza nacional como destino. O Brasil, ao ultrapassar seu estágio de subdesenvolvimento, ocuparia uma posição de destaque no mundo, dada a sua riqueza natural, sua extensão territorial e o valor do seu povo. O desenvolvimentismo foi retomado e aprofundado enquanto modelo econômico e ideologia do desenvolvimento pelos governos militares que assumiram o poder após março de 1964.

Alzira Alves de Abreu

 

 

FONTE: CARDOSO, M. Ideologia.