Rebelião em unidades da Marinha ocorrida entre setembro de 1893 e março de 1894. Começou no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e chegou ao sul do Brasil, onde a Revolução Federalista acontecia simultaneamente. Sem apoio popular ou do Exército, o movimento foi sufocado pelo presidente Floriano Peixoto, a quem pretendia depor.

 

HISTÓRICO

Iniciada em 1893, a Revolta da Armada teve seus antecedentes dois anos antes, em 3 de novembro de 1891, quando o primeiro presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca, sem conseguir negociar com as bancadas dos estados, especialmente os produtores de café (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), fechou o Congresso Nacional. Unidades da Marinha se sublevaram e, sob a liderança do almirante Custódio José de Melo, ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro. Para evitar uma guerra civil, em 23 de novembro Deodoro renunciou. O vice-presidente, marechal Floriano Peixoto, assumiu seu lugar e não convocou eleições presidenciais, conforme previa o artigo n° 42 da Constituição para o caso de vacância do cargo em menos de dois anos após a posse do presidente. Sua alegação era que tal norma valia para presidentes eleitos por voto direto, e tanto Deodoro como ele próprio haviam sido eleitos indiretamente, pelo Congresso Constituinte. Mesmo assim, foi acusado de ocupar a presidência ilegalmente, e o primeiro movimento de oposição veio em março de 1892, quando 13 oficiais-generais divulgaram um manifesto em que exigiam a convocação de novas eleições. O manifesto acusava Floriano Peixoto de armar “brasileiros contra brasileiros” e denunciava desvio das “arcas do erário público a uma política de suborno e corrupção”. O movimento foi sufocado, e seus líderes, presos. Parte deles foi mandada para a cidade de Tabatinga, no interior do estado do Amazonas.

Em 6 de setembro de 1893, um grupo de oficiais da Marinha voltou à carga. Eram liderados pelo almirante Custódio de Melo, que ocupara os ministérios da Marinha e da Guerra no governo de Floriano e pretendia candidatar-se a presidente da República. No grupo estava também o almirante Eduardo Wandenkolk, ministro da Marinha no governo de Deodoro e senador pelo Distrito Federal, que fora preso e reformado por ter assinado o manifesto dos 13 generais um ano antes. No dia 7 de setembro, o diretor da Escola Naval, almirante Luís Filipe Saldanha da Gama, aderiu publicamente ao movimento, declarando-se favorável à volta da monarquia. Além das denúncias contra a política florianista, que não pacificava as rivalidades regionais, os oficiais da Marinha sentiam-se desprestigiados diante do Exército, força de origem dos dois primeiros presidentes, Deodoro e Floriano.

No dia 13 de setembro começaram assim os bombardeios aos fortes do litoral fluminense em poder do Exército. A frota era formada por 16 embarcações da Marinha de Guerra e 14 navios civis confiscados de empresas brasileiras e estrangeiras para dar apoio às forças rebeldes. Devido ao bombardeio dos sete fortes de Niterói, capital do estado do Rio de Janeiro, a sede do governo foi transferida para a cidade de Petrópolis, na serra, fora do alcance dos canhões da Marinha. A capital só voltaria para o litoral em 1903.

Embora fossem maioria na Marinha, os revoltosos não tinham apoio popular e enfrentaram forte oposição no Exército, com a adesão de milhares de jovens a batalhões de apoio ao presidente na capital federal e nos estados. Esses soldados eram nacionalistas, republicanos e não refutavam a violência na defesa de Floriano Peixoto, especialmente contra estrangeiros, a quem atribuíam conspirações contra a República. Inspirados na Revolução Francesa, diziam-se jacobinos e promoviam manifestações ruidosas em teatros e praças públicas. As elites estaduais também apoiavam o presidente, especialmente em São Paulo, onde era forte o Partido Republicano Paulista (PRP). Diante da impossibilidade de tomar a capital federal, os revoltosos foram para o Sul do país, onde estava em curso a Revolução Federalista.

 A luta no Sul foi uma típica disputa entre elites dos anos iniciais da República, pois o presidente do Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos, chefe do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) e um dos poucos que tinham a seu lado a bancada de seu estado no Congresso, apoiara o marechal Deodoro da Fonseca em 1891. Floriano Peixoto, ao assumir a presidência, destituíra todos os presidentes e governadores estaduais ligados a seu antecessor, atingindo Júlio de Castilhos. Logo se instalou a luta pelo poder entre os partidários de Castilhos e os aliados de Gaspar Silveira Martins, que formaram o Partido Federalista. Defensores do parlamentarismo e da revogação da Constituição estadual positivista, os federalistas e os dissidentes do PRR não se conformaram com a reconciliação entre Floriano e Castilhos e, com a volta deste ao governo estadual em janeiro de 1893, e optaram pelo confronto armado.

Em seu deslocamento rumo ao Sul, parte da frota dos revoltosos da Armada chegou até a cidade do Desterro, capital de Santa Catarina. Custódio de Melo ensaiou uma aliança com os federalistas, mas o acordo não avançou. Enquanto isso, o governo federal comprou, às pressas, novos navios de guerra, que foram apelidados de “frota de papel”. Em março de 1894, a Revolta da Armada havia sido sufocada. O marechal Floriano Peixoto tornou-se o homem forte da República e baluarte de seus ideais. Governou até novembro de 1894 e passou o cargo a Prudente de Morais, que se tornou o primeiro presidente civil do Brasil, eleito pelo PRP.

Apesar de ter sido uma entre tantas rebeliões da última década do século XIX, a Revolta da Armada evidenciou as cisões da jovem República brasileira. As rivalidades entre os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto ficaram evidentes, assim como o dissenso entre as instituições que deveriam sustentar o regime, como a Marinha e o Exército, os governos e as bancadas estaduais etc. As batalhas da Revolta da Armada foram registradas pelo fotógrafo espanhol Juan Gutierrez, e hoje esse material, 77 imagens da destruição causada nos fortes do Rio de Janeiro e de Niterói, está no acervo do Museu Histórico Nacional.

 

Beatriz Coelho Silva

 

FONTES: Escola Brasil (26/05/2009). SOUZA, Rainer. Revolta da Armada; GOMES, A. Jacobinos; SOUZA, R. Revolta; UOL Educação (26/05/2009). ÂNGELO, Vitor A. Revolta da Armada