REVOLTA DOS MARINHEIROS

REVOLTA DOS MARINHEIROS

 

Nome com que ficou conhecido o episódio originado pela resistência dos marinheiros, reunidos na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro no dia 25 de março de 1964, à ordem de prisão emitida pelo ministro da Marinha, Sílvio Mota. Os marinheiros realizavam uma reunião comemorativa do segundo aniversário da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, entidade considerada ilegal.

Dois mil marinheiros e fuzileiros navais liderados por José Anselmo dos Santos, conhecido como “cabo” Anselmo, compareceram à sede do Sindicato dos Metalúrgicos no dia 25 de março, a despeito da proibição do ministro da Marinha. O ato comemorativo contou também com a presença de representantes do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), além do então deputado Leonel Brizola e do marinheiro João Cândido, principal líder da Revolta dos Marinheiros de 1910, também conhecida como Revolta da Chibata.

A abertura da solenidade foi feita pelo cabo Anselmo, que afirmou a disposição da associação de lutar contra o imperialismo e o latifúndio, em favor das “reformas de base, que libertarão da miséria os explorados do campo e da cidade, dos navios e dos quartéis”. Durante o encontro, os marinheiros reivindicaram também o reconhecimento de sua associação, a melhoria da alimentação a bordo dos navios e dos quartéis e a reformulação do regulamento disciplinar da Marinha. Finalmente, exigiram que nenhuma medida punitiva fosse tomada contra os que estavam ali reunidos.

Entretanto, considerando o ato dos marinheiros como uma subversão da hierarquia militar, o ministro Sílvio Mota emitiu ordem de prisão contra os principais organizadores do evento e enviou um destacamento de fuzileiros navais ao local da reunião. Contando com o apoio do comandante de sua corporação, o contra-almirante Cândido Aragão, os fuzileiros, em lugar de prender os marinheiros, aderiram aos revoltosos, permanecendo na sede do Sindicato dos Metalúrgicos.

A adesão dos fuzileiros evidenciou a grande polarização existente no interior das forças armadas em torno do apoio ao presidente João Goulart. A posição de Aragão, aliada à ordem emitida em seguida por Goulart proibindo as tropas de invadir o Sindicato dos Metalúrgicos, provocou o pedido de demissão de Sílvio Mota, que foi imediatamente substituído à frente do Ministério da Marinha pelo almirante Paulo Mário Rodrigues.

No dia 26 de março, o ministro do Trabalho Amauri Silva, representando o presidente da República, conseguiu um acordo com os marinheiros, que decidiram abandonar o prédio do sindicato e foram em seguida presos e conduzidos ao quartel do Batalhão de Guardas, em São Cristóvão. Algumas horas depois, contudo, os detidos foram anistiados por Goulart. Essa anistia foi criticada por sucessivos manifestos da alta oficialidade, agravando ainda mais a crise na área militar.

 

 

FONTES: BASBAUM, L. História; CARNEIRO, G. História; Correio da Manhã (26, 27 e 29/3/64); DINES, A. Idos; SILVA, H. 1964; VÍTOR, M. Cinco.