RÁDIO NACIONAL

RÁDIO NACIONAL

 

Emissora de rádio inaugurada no Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1936, com o prefixo PRE-8, sob a razão social da Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional, controlada pela Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, uma das empresas brasileiras do empresário norte-americano Percival Farquhar.

Antecedentes

Em 1931, as máquinas, instalações e imóveis do jornal A Noite foram entregues à Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, como pagamento de dívidas. Integravam o mesmo grupo a S.A. Rio Editora e as revistas A Noite Ilustrada, Carioca e Vamos Ler.

A nova direção decidiu investir no setor de radiodifusão e para isso constituiu a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional, a 18 de maio de 1933. Em assembléia reunida a 24 de maio de 1936 foram alterados os estatutos da sociedade, elevando o capital da empresa de cem contos de réis para setecentos contos de réis em ações. A Sociedade Rádio Nacional tinha como presidente Caubi C. de Araújo e contava com os seguintes sócios: Pedro Lopes, Otávio Lima, Ismael de Oliveira Maia, Pedro Pernambuco, Alfredo Lima, Américo Ramos e Vasco Lima.

Com a obtenção de um transmissor de 20kw, que pertencera à extinta Rádio Phillips, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro instalou-se no 22º andar do prédio do jornal A Noite, que se situava na praça Mauá nº 7, um edifício de 22 andares inaugurado em setembro de 1929 como o primeiro arranha-céu carioca, por muito tempo considerado um cartão-postal da cidade.

A Rádio Nacional do Rio de Janeiro iniciou suas transmissões no dia 12 de setembro de 1936, após solenidade que contou com a presença, no auditório da emissora, de personalidades diversas da sociedade carioca, embaixadores e membros do governo. Já na inauguração, a emissora contava com grande elenco, entre os quais artistas como os cantores Orlando Silva, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Sílvio Caldas e Araci de Almeida, os maestros Romeu Ghipsman e Radamés Gnatalli, os locutores Celso Guimarães, Ismênia dos Santos, Oduvaldo Cozzi e Aurélio de Andrade, o cronista Genolino Amado, o redator Rosário Fusco e o compositor Lamartine Babo, entre outros.

Em 8 de março de 1940, a Rádio Nacional — assim como as demais empresas do grupoA Noite, pertencentes à Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande — passou para o âmbito do Estado. Getúlio Vargas, então presidente da República, sob o Decreto-Lei nº 2.073, criou as Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, absorvendo todo o conjunto de empresas pertencentes ao patrimônio da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande.A encampação teve como principais alegações as dívidas contraídas pela companhia junto ao Patrimônio Nacional (num total de três milhões) e ficou decidida a manutenção do conjunto das empresas, que foram consideradas, segundo o texto do decreto, relevantes para a utilidade pública e para o interesse do país.

O coronel Luís Carlos da Costa Neto foi nomeado para o cargo de superintendente das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. Para a direção da Rádio Nacional foi designado Gilberto de Andrade, jornalista, ex-diretor das revistas A Voz do Rádio e Sintonia, ex-deputado estadual em Alagoas, ex-promotor público em Pernambuco, promotor do Tribunal de Segurança e um dos organizadores da censura teatral. Gilberto de Andrade manteve-se na direção da Nacional no período de 1940 a 1946.

Desde o final dos anos 1930 a Rádio Nacional do Rio de Janeiro já começava a obter a preferência popular, disputando com a emissora Mayrink Veiga, campeã de audiência carioca. Ao assumir a direção da emissora, Gilberto de Andrade tratou de implementar um conjunto de medidas que rapidamente repercutiram no aumento dos índices de audiência. Para pôr em prática as inovações, Gilberto de Andrade contava com um grupo de profissionais altamente qualificados. Pertenciam aos quadros da Nacional profissionais como Henrique Foreis Domingues, o Almirante, Paulo Tapajós e José Mauro, aos quais vieram se somar outros como Lírio Panicali e Léo Peracchi.

Uma das primeiras medidas tomadas por Gilberto de Andrade foi a de instalar um setor de estatística para medir a popularidade dos programas e dos artistas da emissora. Os resultados obtidos pelo setor serviam de forte argumento na conquista de novos anunciantes. A política financeira do novo diretor era a de que o conjunto do faturamento deveria sustentar a emissora como um todo. Tal política permitia a produção de alguns programas de alta qualidade, que traziam fama e reconhecimento público para a emissora, ainda que se mantivessem financeiramente deficitários, pois esses desequilíbrios seriam compensados pelo restante da programação.

O ano de 1941 foi um ano de grandes realizações. Em 5 de junho de 1941 foi ao ar a primeira radionovela brasileira: Em busca da felicidade, uma adaptação do original cubano de Leandro Blanco por Gilberto Martins, com a interpretação de Zezé Fonseca, Iara Sales, Rodolfo Mayer, Ísis de Oliveira, Floriano Faissal, Saint-Clair Lopes e Brandão Filho, entre outros. Os capítulos eram apresentados três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras pela manhã, às 10:30h, sob o patrocínio do creme dental Colgate. A novela ficou em cartaz até 1943 e foi substituída por O romance de Glória Marivel, um original também de Leandro Blanco.

Aproveitando o sucesso de Em busca da felicidade, a Nacional lançou, em seguida, as radionovelas noturnas Predestinada, Fatalidade e Maldição, todas de Oduvaldo Viana. As radionovelas obtiveram grande aceitação popular e logo passaram a ocupar diversos horários da programação da emissora. Durante todas as décadas de 1940 e 1950 e parte da de 1960 as radionovelas foram as campeãs de audiência da Rádio Nacional. Durante o ano de 1943 a emissora transmitiu 19 radionovelas. Em dez anos este número aumentou para 75 e, em 1955, a Nacional atingiu a cifra de 157 radionovelas anuais.

Em 28 de agosto de 1941 surgiu o Repórter Esso, “o primeiro a dar as últimas”, inicialmente nas rádios Nacional do Rio de Janeiro e Record de São Paulo e, posteriormente, nas rádios Inconfidência de Belo Horizonte, Farroupilha de Porto Alegre e Rádio Clube de Pernambuco. Inicialmente sem locutor fixo, o Repórter Esso da Nacional se consagrou na voz de Heron Domingues, que a partir de 1944 se tornou o locutor exclusivo deste noticiário radiofônico. Heron permaneceu no cargo de locutor durante 18 anos e, com o slogan de “testemunha ocular da história”, o Repórter Esso se manteve 27 anos no ar. O noticiário era preparado pela United Press International (UPI) e seguia os moldes dos noticiários radiofônicos norte-americanos. O Repórter Esso era um noticiário muito popular e bem conceituado junto aos ouvintes, possuía três transmissões diárias regulares e edições extraordinárias, caso fossem necessárias.

No ano de 1942 a emissora continuou a sofrer grandes transformações. Em 19 de abril de 1942 a Nacional inaugurou os novos estúdios e um auditório de 486 lugares, realizando uma programação especial durante todo o dia. A Nacional se colocava entre as emissoras mais bem equipadas do mundo.

Ainda em 1942, ocorreram mais inovações técnicas na Rádio Nacional. Em 15 de novembro os transmissores foram transferidos para o bairro de Parada de Lucas, o que significou uma melhora imediata na qualidade das transmissões. Em 31 de dezembro a emissora inaugurou um transmissor de ondas curtas RCA Victor de 50kw e um sistema de cinco antenas direcionais, que deveriam transmitir para a América, Ásia, África e Europa e para todo o território brasileiro. Na cerimônia de inauguração se encontravam presentes nos estúdios da Nacional diversas autoridades, entre eles os ministros Osvaldo Aranha, Mendonça Lima e Barros Barreto, o interventor Amaral Peixoto e o capitão Osvaldo Pamplona, representando o presidente da República.

O setor de emissões para o estrangeiro em ondas curtas funcionava como uma emissora à parte, com alguns departamentos especiais. O departamento cultural contava com a colaboração de Roquete-Pinto, Silvio Fróis de Abreu, Venâncio Filho, Raul Machado, Andrade Murici, Gastão Cruls e Manuel Bandeira. O responsável do departamento político foi, inicialmente, João Neves da Fontoura, logo substituído por Cassiano Ricardo. Havia ainda o departamento econômico-financeiro, a cargo de Valentim Bouças.

As transmissões internacionais tinham início à tarde. Em janeiro de 1943, o programa para Portugal ia ao ar às 16:30h, seguido pelo da Inglaterra, às 17:30h, o hispano-americano, às 18:40h, e no final do dia, o dos Estados Unidos e Canadá, às 23 horas.

Com modernas instalações e alcance nacional, a emissora passou a atrair novos patrocinadores. Em 6 de janeiro de 1943, a Coca-Cola e a Nacional colocavam no ar o programa Um milhão de melodias, como parte da campanha de lançamento do refrigerante no mercado brasileiro. O programa permaneceu em cartaz por 13 anos. O repertório a ser apresentado em Um milhão de melodias era escolhido por Paulo Tapajós e Haroldo Barbosa, com direção de José Mauro. O maestro Radamés Gnattali era o responsável pelas orquestrações especiais, tanto para as composições nacionais como para as estrangeiras. Para a execução das músicas, Radamés criou uma orquestra especial para o programa, que contava com os violões de Garoto, Bola Sete e Zé Meneses, com a bateria de Luciano Perrone e com a percussão de João da Baiana e Heitor dos Prazeres, entre outros músicos.

Um outro gênero de programa muito popular era o de auditório. Os grandes programas de auditório da Nacional eram constituídos de diversos quadros que constavam de shows musicais, teatros de variedades, concursos, sorteios de prêmios e, muitas vezes, uma parte dedicada aos calouros.

Em 1943, a Nacional apresentava, aos domingos, o programa de auditório de Luís Vassalo, que tinha início às dez horas e terminava às 15 horas. Dentro do programa havia um conjunto de quadros que variavam sua duração entre 15 e 30 minutos. Às 16:30h tinha início a Hora do pato, um programa de calouros de uma hora de duração, inicialmente apresentado por seu criador, Héber de Bôscoli, depois substituído por outros apresentadores, como Paulo Gracindo e Jorge Curi. Um outro tipo de programa de auditório era o de Jararaca e Ratinho, programa de humor irradiado às sextas-feiras, às 21:35h.

A popularidade dos programas de auditório fez com que alguns deles se mantivessem no ar por muitos anos. Os programas de César de Alencar, Manuel Barcelos e Paulo Gracindo tiveram início no final da década de 1940 e ficaram no ar por mais de 20 anos. O aumento da popularidade dos programas de auditório fez com que a Nacional passasse a vender os ingressos para tais programas. Em ocasiões especiais, como por exemplo nos aniversários dos programas, a emissora alugava um teatro para poder acomodar um maior número de fãs.

Em 1946, Gilberto de Andrade deixou a direção da Rádio Nacional, sendo substituído, inicialmente, por Hermenegildo Portocarrero e, em seguida, por Armando Calmon Costa, que se manteve na direção da emissora no período de 1946 a 1950.

No final da década de 1940, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro era a líder de audiência tanto no Rio de Janeiro como em outras praças do país. Os programas de auditório prosperavam e muitos deles mantinham sempre um de seus quadros dedicados a uma cantora (ou cantor) popular que atraía para o programa uma “legião de fãs”. A cantora Emilinha Borba era a estrela do programa César de Alencar; e Marlene, do programa Manuel Barcelos. Em 1949, Marlene e Emilinha disputaram o título de Rainha do Rádio, com os animadores dos programas estimulando a disputa. Os votos eram vendidos e a renda era destinada à campanha de construção do Hospital dos Radialistas. Marlene foi a eleita, mas a disputa entre os fãs das artistas se prolongou por anos.

Ao longo do tempo, a Nacional foi criando a prática de manter determinados tipos de programações sempre nos mesmos horários e quando um programa tinha fim era substituído por outro do mesmo gênero. As tardes de sábado e domingo eram dedicadas aos programas de variedades com participação do auditório. O horário de 20:35h das sextas-feiras, desde o início da década de 1940, era dedicado aos programas humorísticos e obtinha altos índices de audiência. O primeiro programa do gênero a ocupar o horário foi o da dupla Jararaca e Ratinho, que foi substituída por Alvarenga e Ranchinho. Mais tarde, passou a ocupar o horário humorístico da sexta-feira da Nacional, o programa PRK-30, a emissora “clandestina” da dupla de comediantes Lauro Borges e Castro Barbosa.            

Entre 1950 e 1951 a direção da Nacional do Rio de Janeiro ficou a cargo de José Caó. Ainda em 1950, mantendo a tradição do horário humorístico das sextas-feiras, o PRK-30 foi substituído por um programa de Max Nunes, o Balança mas não cai. O novo programa contava em seu elenco com os atores Brandão Filho, Paulo Gracindo, Floriano Faissal, Apolo Correia, Válter e Ema d’Ávila, entre outros.

Em 1951, Vítor Costa assumiu a direção da Nacional. Vítor tinha sido até então o diretor de radioteatro. Para diretor de broacasting foi nomeado Paulo Tapajós. Neste período o setor que mais se destacou foi o radioteatro.

Em 8 de janeiro de 1951 a Nacional do Rio de Janeiro lançou às segundas, quartas e sextas-feiras, no horário de 20 horas às 20:25h, O direito de nascer, a mais famosa novela radiofônica. O texto original, do cubano Félix Caignet, foi irradiado, com enorme sucesso, em diversos países latino-americanos. No Brasil a adaptação do texto ficou a cargo de Eurico Silva. O elenco contava com Ísis de Oliveira, Iara Sales, Paulo Gracindo, Abigail Maia, Roberto Faissal e outros. A novela ficou em cartaz até setembro de 1952, perfazendo um total de 260 capítulos irradiados.

No mesmo ano o animador Héber de Bôscoli voltou com A felicidade bate à sua porta, programa de auditório que ia ao ar aos domingos. A peculiaridade do programa era a de contar com furgão, devidamente equipado para transmissões externas, que percorria os bairros da cidade em busca do ouvinte que tivesse a carta sorteada. O patrocinador era a União Fabril Exportadora e, se o sorteado pudesse provar que possuía em sua casa um dos produtos do patrocinador, ganhava os prêmios. A entrega dos prêmios contava com a presença da cantora Emilinha Borba, na época um dos maiores fenômenos de popularidade.

Ainda em 1951, a Rádio Nacional recebeu autorização para realizar os primeiros testes para a instalação de um futuro canal de televisão. Neste período pertencia aos quadros da Rádio Nacional a maioria dos artistas mais famosos. Tal fato pode ser verificado através do concurso dos “Melhores do Rádio de 1951”, realizado pela Revista do Rádio, no qual somente um dos escolhidos em todas as categorias não era integrante da Rádio Nacional. Apesar dos constantes esforços dos profissionais ligados à emissora, o projeto de TV Nacional nunca se concretizou.

Em 1953 foi inaugurado um novo estúdio de radioteatro, considerado o melhor do mundo em termos de recursos. No mesmo ano foi ao ar a série Jerônimo, o herói do sertão, de Moisés Weltman, que ficou no ar até 1967. Era irradiada de segunda a sexta-feira às 18:35h, sob o patrocínio de Melhoral e do Leite de Magnésia de Philips. Durante um largo período, o papel principal foi interpretado por Mílton Rangel. Em 1972, o seriado voltou ao ar, mas por pouco tempo.

Em 1956, ao completar 20 anos, a Rádio Nacional ocupava os quatro últimos andares do Edifício A Noite e contava com seis estúdios e um auditório com 496 lugares no 21º andar. No mesmo ano, Moacir Areias passava a ocupar o cargo de diretor-geral. A emissora continuava a obter excelentes índices de audiência, tendo como principais atrações as radionovelas e os programas de auditório.

Entre os anos de 1956 e 1964, a programação da Rádio Nacional manteve o mesmo estilo, sendo que os níveis de audiência começaram a apresentar um ligeiro declínio. A grande expectativa da época era a da criação da TV Nacional do Rio de Janeiro, que nunca veio a ser realizada.

Em 2 de abril de 1964 Mário Neiva Filho foi nomeado o novo diretor da Rádio Nacional. No dia subseqüente ao golpe militar, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro foi posta sob vigilância e teve início um processo de perseguição política a muitos dos funcionários da emissora. Uma comissão de investigação sumária foi imediatamente instalada. Em 23 de julho de 1964, foi expedido um decreto demitindo da Rádio Nacional os seguintes funcionários: Heitor dos Prazeres, Dalísio Machado, Edmo do Vale, Elias Haddad, Gerdal Renner dos Santos, Iracema Ferreira Maia, Jorge Neves Bastos, José Rodrigues Calasans (o Jararaca), José Marques Gomes, Mário Lago, Penha Marion Pereira, Rodnei Gomes, Severino do Brasil Manique Júnior, Antônio Ivan Gonzaga de Faria, Adelaide Andrade Teixeira, Epaminondas Xavier Gracindo (Paulo Gracindo), Fernando Barros da Silva, Francisco de Assis Pires, José Palmeira Guimarães, Jairo Argileu de Carmo e Silva, José Geraldo da Luz, João Anastácio Garreta Prates, Jorge Viana da Silva, Mário Farias Brasini, Newton Marin da Mata, Oduvaldo Viana, Ovídio Chaves, Paulo Grazioli, Sérgio Moura Bicca, Vanda Lacerda, Alfredo de Freitas Dias Gomes, Antônio Teixeira Filho, José Gomes Talarico, João de Sousa Lima, João Fagundes de Meneses e Helmicio José Fróis. As investigações continuaram e o resultado foi o de 67 funcionários afastados e 81 demitidos.

A Rádio Nacional, que já vinha perdendo sua posição de liderança de audiência com a concorrência da televisão, foi duramente atingida pelo golpe militar de 1964 com a perda de importantes profissionais de seus quadros artísticos, todos sob a acusação de envolvimento com o Partido Comunista. O inquérito policial militar terminou sendo arquivado por falta de provas, mas os funcionários não foram imediatamente reintegrados.

Na década de 1970, com sua situação financeira bastante debilitada, a Nacional tentou relançar algumas radionovelas de sucesso. Sob a direção de Daisi Lúcidi, o departamento de radioteatro levou ao ar a novela A noite do meu destino, de Eurico Silva, estrelada por Paulo Gracindo, e Ternura, de Amaral Gurgel, com a participação de Caubi Peixoto e Cláudio Cavalcanti. O resultado obtido não foi muito promissor e a emissora desativou o departamento de radioteatro.

Em 1975, através do Decreto-Lei nº 6.301, foi criada a Empresa Brasileira de Radiodifusão (Radiobrás), que gerenciava diversas emissoras governamentais, entre elas a Rádio Nacional. O sistema de ondas curtas da Rádio Nacional continuou a ser utilizado para as transmissões internacionais dirigidas para o continente americano, a Europa, África e parte da Ásia. A administração central da Radiobrás se encontrava em Brasília, sendo que, para cada uma das emissoras do sistema, era nomeado um gerente.

Em 1980, após um longo processo, alguns dos funcionários punidos pelo golpe militar de 1964, foram reintegrados à emissora, sendo que 12 deles deveriam retornar às funções e 14 foram aposentados. Apesar de anistiados, depois de comprovado que o afastamento se deu de forma indevida, não houve indenização no que diz respeito aos salários referentes aos 16 anos nos quais os funcionários se mantiveram fora da emissora. No momento da reintegração a Nacional havia modificado significativamente sua programação, fazendo com que somente alguns dos ex-funcionários pudessem ser mantidos na emissora, enquanto outros foram lotados em outras empresas do sistema Radiobrás.

Em 1996, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro completou 60 anos de existência, sob a gerência de Osmar Frasão, transmitindo em sua programação de aniversário antigos programas de sucesso tais como Um milhão de melodias, Obrigado doutor e Quando os maestros se encontram. A emissora mantinha então no ar programas de famosos radialistas, tais como: Daisi Lúcidi, Gerdal dos Santos, José Messias, Arlênio Lívio e Humberto Reis, entre outros.

Mesmo com as dificuldades de material e limitações, entre elas a qualidade da sintonia, pois o parque técnico da Nacional localizado no Rio de Janeiro estava bastante defasado, principalmente no que se referia a equipamentos transmissores, a emissora ficou responsável pela produção jornalística mais importante da Radiobrás, a Revista Brasil, que era transmitida de segunda a sábado e comandada por Walter Lima em Brasília, tendo como âncora no Rio de Janeiro, José Carlos Cataldi.

Ao final da década de 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), surgiram diversos boatos de que a Rádio Nacional seria privatizada, mas em janeiro de 1998, foi noticiado que a Radiobrás sofreria uma grande reformulação a partir da posse de seu novo presidente, Carlos Zarur (1998-2003). Até 2002, a reformulação total ainda não havia deslanchado, mas seu presidente anunciou que haveria o lançamento de uma programação de alto nível, que entraria no ar em junho de 2002, e que esta não acarretaria demissões entre os 118 funcionários da emissora. Os apresentadores – Daysi Lúcidi, Gerdal dos Santos, Astrid Nick, Osmar Frazão, Cirilo Reis, entre outros – teriam seus programas transferidos para o fim de semana e seus horários semanais seriam cobertos com a nova programação musical, produzida em Brasília. Após esse anúncio, foi publicado no Jornal do Brasil de 20 de maio deste mesmo ano, uma carta assinada por Daisy Lúcidi e mais 20 funcionários ratificando os problemas da emissora, que segundo eles estava há 12 anos sem repasse de recursos pela Radiobrás para a manutenção de seus transmissores e relatavam o afundamento da torre de transmissão no terreno de Itaoca, no Rio de Janeiro. Por fim, indagavam se a Radiobrás desrespeitaria a lei aprovada pelo governo que estabelecia “a regionalização das programações radiofônicas”. Esses questionamentos não foram respondidos oficialmente, mas a nova programação foi implantada mais discretamente e no horário noturno, sem atender as expectativas de seus antigos funcionários e não evitando que a Nacional fosse perdendo cada vez mais sua audiência.

Em 2003, o governo Luís Inácio Lula da Silva (2003-) escolheu para comandar a Radiobrás o jornalista, advogado e professor universitário Eugenio Bucci. Ao visitar a Nacional no Rio de Janeiro, Bucci se declarou “chocado e estarrecido” com a situação encontrada e assinou um convênio de revitalização da emissora com a Petrobrás, em maio de 2003. Este convênio, da ordem de R$ 2,5 milhões, seria destinado à reforma das instalações e reequipamento técnico e beneficiaria também a Rádio MEC, que também emitia de Itaoca.  A reforma foi supervisionada pelo radialista Cristiano Ottoni de Menezes, que assumiu então o cargo de chefe do escritório regional da Radiobrás no Rio de Janeiro, e começou com a derrubada das paredes do 21° andar, onde foram construídos o estúdio Mário Lago, o estúdio de gravação Paulo Tapajós e uma nova discoteca, assim como a reconstrução de um auditório no mesmo local do anterior. Equipamentos modernos também foram adquiridos, como o transmissor Nautel de 50kw, que estava apto a receber a tecnologia digital no momento oportuno, e um sistema irradiante. Outro grande passo foi a realização de um concurso público para preencher seu quadro funcional.

A inauguração das novas instalações da Rádio Nacional ocorreu em 2 de julho de 2004 com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os convidados, estavam Daisy Lúcidi e Gerdal dos Santos, com longa atuação na emissora, as cantoras Carmem Costa e Ademilde Fonseca, Ellen Lima e Adelaide Chiozzo. O novo auditório foi inaugurado com o espetáculo do ator Gracindo Júnior, que havia estreado na Rádio Nacional aos 14 anos, mas fora afastado em 1964, sendo anistiado somente em 1979, com um conjunto regido pelo maestro Ivan Paulo e participação de grandes nomes do rádio nacional como Jamelão, Cauby Peixoto e as rainhas Emilinha Borba e Marlene, além de Carmélia Alves e Luciana Lins.

A partir do Fórum da TV Pública, liderado pelo então ministro da Cultura Gilberto Gil em 2007, foi editada a Medida Provisória 398, depois convertida pelo Congresso na Lei 11 652/2008 que visava a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), encarregada de unificar e gerir, sob controle social, as emissoras federais já existentes, instituindo o Sistema Público de Comunicação. Outra missão da EBC era articular e implantar a Rede Nacional de Comunicação Pública. Com a criação da EBC, as oito emissoras de rádio de natureza estatal foram unificadas numa superintendência dirigida pelo jornalista Orlando Guilhon, cumprindo o objetivo de implantar o sistema público de rádio e reorientar a programação e a ênfase de cada um.

 

 

Lia Calabre de Azevedo/ colaboração especial

 

 

 

FONTES: AZEVEDO, L. C. Na sintonia; AZEVEDO, L. C. Estado; BARBOSA, V. ; DEVOS, A. M. Radamés Gnattali; CABRAL, S. Rádio; CABRAL, S. No tempo; LAGO, M. Bagaço; MIN. FAZ. Relatório (1940); MURCE, R. Nos bastidores; Nosso século; ORTRIWANO, G. S. Informação; Portal da Empresa Brasileira de Comunicação. Disponível em : <http://www.ebc.com.br>. Acesso em : 30 ago. 2009; RÁDIO NACIONAL. 20 anos (1956); RÁDIO NACIONAL. 25 anos (1961); RÁDIO NACIONAL. Rádio (1958); Revista Carioca RJ (12/9/36); Revista Vamos Ler (31/12/42); SAMPAIO, M. F. História; SAROLDI, L. C. ; MOREIRA, S. V. Rádio Nacional.